terça-feira, 20 de julho de 2010

A FELICIDADE DE UM CASAL E A ECONOMIA DE SENTIMENTOS


A vida de casal é uma das mais importantes relações interpessoais que contribuem para a felicidade. A maioria das pessoas cultiva a imagem de um casal que vive em felicidade, mas a realidade mostra um número muito grande de casais infelizes, descontentes com o relacionamento que têm, sem realização, conforme indicam as estatísticas de separações. Em Terapia de Casal, ao se procurar examinar as razões da crescente insatisfação que homens e mulheres revelam, uma das respostas certamente estará no fator classificado como "economia de sentimentos".

Imagine dois casais. O primeiro casal tem uma vida em comum que revela uma "economia de sentimentos". Exagerando um pouco nas "tintas" para descrever esse casal: cada um dos cônjuges é "econômico" em todas as suas atitudes e expressões emocionais um com o outro (e certamente também com as outras pessoas). Expressam muito pouco (ou quase nada) de suas emoções, vivendo uma relação "morna" ou quase fria, sem quase nenhuma demonstração de interesse e encantamento um com o outro. Pouco se tocam fisicamente (quando isso acontece se afastam rapidamente) e não olham diretamente um para o outro nos olhos e quando isso ocorre, desviam o olhar, rapidamente, procurando mantê-los em outra coisa qualquer. O pouco contato corporal ocorre sempre dentro dos limites convencionais e de modo formal revelando um grau pequeno de intimidade. Raramente sorriem, mantendo uma expressão fria, taciturna, fechada, "sem vida" no rosto, geralmente com dois vincos profundos ao lado da boca, como se estivessem com depressão.

Utilizam pouca comunicação e quase chegam a ser incapazes de conversar construtivamente sobre alguma dificuldade entre eles, reagindo com explosões emocionais quando há alguma divergência. Geralmente evitam dialogar e abrir-se emocionalmente um com o outro, não sabem respeitar as diferenças e vivem "sufocando" suas próprias emoções, reagindo com resmungos destrutivos, atitudes críticas ou de "rabugice" e mau humor, criando conflitos com discussões contínuas que podem levar a agressões ou auto-agressões (provocando doenças psicossomáticas, crises nervosas, stress, taquicardia, insônia, etc) e em casos extremos, a uma ruptura do relacionamento. A rotina diária desse tipo de casal, quase sempre é a mesma. Quando de manhã, o despertador toca, cada um levanta da cama sem ao menos dizerem um bom dia, quando muito um "oi". Preparam-se geralmente em silêncio ou com poucas palavras um ao outro, continuam com pouca comunicação no café da manhã e na despedida para o trabalho. De retorno ao lar, à noitinha, continuam com pouca comunicação. Após o jantar, sentam-se no sofá (geralmente numa distância formal, de meio metro um do outro) para verem televisão, fazem um ou dois comentários sobre alguma coisa com uma voz em tom formal, e ao irem dormir raramente se tocam ou se beijam, quando muito um leve beijinho de boa noite. Quando, raramente, "fazem amor", unem-se sexualmente de forma mecânica, formal. - "Hoje é dia 10, dia de fazermos amor" - diz o marido. A esposa, de modo sério responde: - "Sim meu esposo! Vou apagar a luz e levantar a camisola".

Você deve estar rindo ou achando absurdo tal situação, em pleno século 21! Os terapeutas de casais sabem que relacionamento como a desse casal é muito comum. É uma triste realidade de um casal que "convive" sem muita emoção e no rosto de cada um de seus membros se pode constatar a ausência de alegria, de "vida" nos olhos, de entusiasmo e de realização. A infelicidade certamente é uma presença na vida desse tipo de casal, e quando um ou outro chega a perceber o que acontece com eles e cria coragem para encontrar uma mudança dessa situação, geralmente procura um terapeuta de casais...

Agora imagine outro tipo de casal, bem diferente desse primeiro. Um casal diferente porque seus membros não "economizam" na expressão de seus sentimentos, possuindo um livre fluxo de emoções, vivenciando com interesse e paciência o companheirismo e a amizade entre eles, tendo disposição para compartilharem os momentos bons e maus, sentindo-se otimamente bem um com o outro, à vontade para discordarem ou concordarem, sabendo respeitar as diferenças. Vivem integralmente cada momento, fazendo sempre um esforço para terem tempo disponível um para o outro, deixando de lado seus "papéis sociais" que vivem fora do lar, convivendo com o outro de modo natural, relaxado, espontâneo, com alegria e entusiasmo, sem "máscaras", sem ficar preocupado com o que o outro "vai pensar" se falar alguma coisa ou se fizer alguma coisa. O casal vive uma relação equilibrada, sem um relacionamento de domínio e sujeição, onde ninguém quer dominar o outro, vivendo uma amizade livre e igual. Adoram a convivência entre eles e o estarem juntos. A expressão facial revela "vida" nos olhos, acompanhada sempre de um sorriso, em especial, quando cada um se coloca frente ao outro, face a face, demonstrando interesse recíproco.

Esse tipo de casal geralmente vive um "amor romântico" com sentimentos profundos, cada um procurando expressar que gosta um do outro. Olham-se diretamente nos olhos, acompanhado com um sorriso franco e aberto, feliz, com um rosto "solto", revelando um "brilho" especial nos olhos, um entusiasmo pela vida. O contato visual entre os dois também é especial. Quando seus olhos se encontram (numa troca de olhares por um período mais longo do que o habitual, geralmente sorriem e às vezes, dão uma "piscada" um para o outro, piscada que revela sentimentos positivos e muitas coisas que fazem o outro feliz ("Eu amo você, eu quero você, eu gosto de você, você é especial para mim", etc). Os dois não deixam aquele entusiasmo do início do relacionamento esfriar, não deixam o tédio ou a rotina se instalar em suas vidas. Procuram manter a vontade de passarem seus momentos de lazer juntos, compartilhando o que for possível, continuando a valorizar o outro, pensando nele/a como "alguém muito especial", procurando sempre fazer novas "descobertas" sobre o outro, conduzindo o relacionamento a novos níveis de compreensão e de intimidade.

É um casal que costuma se tocar muito, andando de mãos dadas, ou o marido arrumando uma mecha de cabelo dela e em seguida lhe dando um beijinho nos lábios, seja ela arrumando a gola da camisa dele e passando a mão de leve no rosto dele, seja ela fazendo um carinho quando ela passa por ele que está fazendo a barba. Ou colocando o despertador para acordarem 15 minutos mais cedo para os dois poderem ficar uns minutos agarradinhos, aconchegantes na cama, agradando um ao outro e (se der vontade) "fazendo um amor rapidinho" como forma de começar o dia deixando cada um deles feliz, ou à noite, dormindo encostados um ao outro ou ainda, antes de irem dormir, namorarem a um canto do quarto, "curtindo" a presença um do outro, com beijos e abraços sem inibição, agradando um ao outro. E na intimidade do amor sexual, usam da arte da sedução, uma arte galante que dá vida ao relacionamento, e não se cansam de estimular o outro com beijos, com carinhos, com demonstração de que o outro "é importante", que o outro "é alguém especial", cada um fazendo ao outro elogios lisonjeadores, vivenciando a preparação para o amor com expressão de sentimentos e de toques que agradam, que torna cada um atento ao outro. Assim, cada um faz bem a sua parte para ampliar o desejo um pelo outro, vivenciando com intensidade a união do amor, revelando sentimentos profundos, alegria e entusiasmo um com o outro.

Esse casal tem um bom nível de comunicação (seja verbal ou não verbal), de manhã até o adormecer e utiliza, sempre, nessa comunicação, um tom de voz como da época de namorados ("um doce murmúrio") com o uso de palavras carinhosas um com o outro (amorzinho, querida/o, dengo, chuchu, fofo/a, etc). Geralmente é um casal que começa o dia dando um "bom dia amorzinho" entusiástico, cheio de alegria, e na hora do almoço geralmente se falam por telefone ("Como foi sua manhã?", "Estou morrendo de saudades...", etc) e quando estão juntos conversam bastante sobre tudo, dando opiniões, abrindo suas mentes um para o outro, ouvindo o outro falar (olhando para o outro enquanto escuta, detalhe importante na comunicação! E deixando-o/a falar sem interromper e se discordar da opinião do outro, expressando sua opinião sem criticar, sem menosprezar, sem diminuir o outro, mas trocando idéias como forma de crescimento e aprendizagem recíprocas). Utilizam sempre do diálogo para trocarem idéias e conhecerem sempre mais o outro, evitando que surjam tensões, ansiedades e hostilidades por falta de comunicação. E nessa comunicação há alegria, risos, naturalidade, rosto "solto", espontaneidade. Agindo um com outro com modos positivos como esses, certamente esse casal enriquece a vida a dois, construindo uma vida de casal altamente gratificante, uma relação afetiva com muita felicidade!

Um relacionamento como o desse casal é o que muitos homens e mulheres almejam, conforme revelam em sessões terapêuticas. Você deve estar achando que relacionamento como esse descrito acima não existe, que isso é uma utopia, que a "correria da vida", que os afazeres domésticos e de trabalho impedem que se viva uma vida a dois com alegria, dando atenção e valorização um ao outro. Diz um ditado popular que "O que merece ser feito merece ser bem feito". Ou seja, apesar das dificuldades da vida, do trabalho estafante lá fora, das dificuldades econômicas, nada impede você de procurar ser feliz com o seu cônjuge, deixando de "economizar" na expressão dos sentimentos. Tente mudar um pouco e você irá ficar surpreso/a com a reação positiva de seu cônjuge, com a expressão de felicidade que verá no rosto dele/a. Tente fazer uma "viagem ao passado", voltando à época do namoro, em que cada um valorizava o outro, olhava o outro como se fosse "alguém muito especial", encantando-se com ele/a, olhando para o outro com real interesse de viver uma relação satisfatória e feliz. Procure relembrar as expectativas, aquilo que você desejava, que almejava, da vida.

Antonio de Andrade

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